quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Coitada da Amélia!



 Vocês lembram daquela musiquinha que diz que Amélia que era mulher de verdade? Pois é. Coitada dela! Onde já se viu achar bonito não ter o que comer? Não gosto dessa música, digam o que disserem. Se bem que Amélia "picou a mula", pelo que eu entendo. Mas isso não vem ao caso. Hoje tanto se fala em preconceito, racismo, homofobia, iada, iada, iada. Implicaram com a "loira burra" e esqueceram de outras coisas que também ferem e ofendem.
   Ainda é muito natural a depreciação da mulher publicamente, como se isso também não fosse uma espécie de preconceito. Uma mulher "tem" que jogar conforme as regras impostas pela sociedade? Para todos é muito natural que a mulher faça os trabalhos domésticos, eu mesma passo por isto todos os dias. Tudo bem, todo os que moram sós precisam encaram uma faxina, cozinhar, "se virar". Mas, e nós, mulheres que, além de trabalharmos fora, quando chegamos em casa ainda temos que encarar uma vassoura, um fogão e cia? Amélia que me perdoe, mas eu não acho bonita a miséria, a submissão ou qualquer equivalente. Ou será que era o dito cujo que achava que a pobre Amélia pensava assim? Sim, porque a grande maioria dos homens acredita que pode "pensar" pelas mulheres, alienando sem dó suas capacidades de pensar e decidir o que é melhor. Grande erro! Se as devidas oportunidades forem dadas, as mulheres serão capazes de tudo. Essas sim, são mulheres de verdade, as lutadoras e não as que se deixam relegar à condição de "bicho de estimação" de um macho que, na maioria das vezes, são mais do que irracionais.
 Eu não sinto nem um pingo de saudade da Amélia e acho que nem ela sente saudade de si mesma, de quando era uma "serva" de uma pobre criatura que sequer entendia seus motivos de segui-lo. Sim, muitas vezes somos tolas o suficiente para sermos companheiras de perdedores. Não estou dizendo que o homem da música o era, nem que os homens sofridos de nosso povo são todos assim por passarem fome. Não poderia afirmar esse absurdo, vivendo no país em que vivo e tendo os líderes que tenho no Governo, muito embora pare para pensar que tais líderes lá estão porque nós ali os colocamos (mas isso é conversa para outra hora). Não desejo desmerecer nossos homens. Falo da grande leva de pessoas que se acomodam, estagnadas em sua mesmice, preguiça e covardia. Tudo isso é contagioso e cansa. Talvez esse seja o motivo de Amélia ter "ralado o peito", não sei dizer. Mas, sendo esse o motivo ou não, ela se cansou. Qualquer ser humano cansa de lutar sem resultado. Cansa de perder uma batalha atrás da outra. E essa conversa de "eu sou brasileiro e não desisto nunca" é "papo pra boi dormir". E o boi já está "roncando" faz tempo.


Este texto foi publicado por mim em O Recanto das Letras, em 28 de junho de 2008.

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